terça-feira, 2 de agosto de 2016

Uber versus taxi

O tempo passa, e tudo se transforma. Os taxistas, poucos até para uma cidade de cerca de 3 milhões de pessoas, achavam que iam deter o monopólio do transporte individual de passageiros. O tempo passou, e isto mudou.

Concessão municipal

Os taxistas são regulados por um Contrato de Concessão de Licença para transporte de passageiros, autorizado por Licitação. Neste ponto, há anos, vem ocorrendo um "tráfico" das licenças, pagas a peso de ouro.

Outra irregularidade é o "direito hereditário", ou seja, morrendo o titular, a licença pode ir para o herdeiro. Pode ser legalizado, mas não é compatível com algo que se chama concessão.

Existe também um fator psicológico ligado ao taxi. Os detentores da licença acham que o carro e o serviço são deles. Vamos supor que você esteja saindo de uma escola, com o seu filho, depois das 18:00, e dê sinal a um taxi VAZIO. O motorista desce o vidro e pergunta: "vai para onde" ? Você diz o seu destino, e recebe a resposta "eu vou para outra direção, estou largando serviço", e ele vai embora, te deixando na mão, com seu filho com fome, com mochila na mão, com o trânsito ruim, e com alta probabilidade de receber outras respostas do gênero. Isto ocorre porque não existe um controle sobre os taxistas.

Vejam bem, isto está de acordo com um serviço de transporte público, regido por princípios de concessão ? Eles estão na rua para servir à população com sua justa remuneração, ou estão ali só para ganhar o sustento ? Se você já conversou com estes motoristas de taxi, por mais de 10 anos (é o nosso caso), já deve ter notado o individualismo exacerbado que domina a mente destes indivíduos.

Herança

A Concessão é um contrato entre o Poder Concedente e o Concessionário. Contrato é um instrumento legal, e no caso da Concessão o Governo está cedendo a responsabilidade pelo serviço (não pela sua regulação) a uma empresa ou pessoa. As licenças de Taxi (placas) podem passar para a primeira geração daquele que a possui. Isto é um absurdo. Isto é colonial. A licença de concessão não pode ter caráter de herança. Isto não é um bem da pessoa, e sim do Poder Concedente.

Chuva

Já pediu Taxi durante a chuva ? Os motoristas alegam que o trânsito fica difícil. No entanto, após mais de 10 anos pegando taxi, sabemos que a maior parte deles vai para casa, ou estaciona em algum lugar, e tira a "televisão" (por isto os taxis vem sendo logotipados nas laterais), para não ter o carro batido ou arranhado. Este não é um comportamento de uma pessoa que tem a consciência de que está prestando um serviço público.

Os pobres passageiros ficam na rua, sem transporte.

Educação

Nos termos da licitação só está implícita "uma boa prestação de serviços de transporte". Isto é muito subjetivo. Na mente da maior parte dos taxistas isto apenas se traduz em "eu tenho obrigação de levar o passageiro ao seu destino". É raro um motorista de taxi dar um "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite". Você entra no carro e ele continua olhando na direção do para-brisa. Um "quer passar por onde" é ainda mais raro. Alguns acabam brigando com o passageiro, pois este diz que quer passar por um determinado lugar, mas o motorista passa por outro.

Alguns recebem o passageiro com o rádio ligado em programas aborrecidos, músicas do gosto deles, e não perguntam ao passageiro se quer que o aparelho seja desligado, ou que a estação seja mudada. E alguns nem abaixam o som do rádio. Este problema é notoriamente conhecido como problema de educação.

Antes do Uber, e mesmo depois, os motoristas de taxi nunca pensaram em oferecer água ou café ou uma bala que fosse aos passageiros. E olha que o serviço de taxi é antigo na capital (desde os fusquinhas amarelos). Mas isto se explica pela origem da escolha da ocupação (não chamaremos de profissão). Se a pessoa sabe dirigir (e são muitos, pois aos 18 anos todo mundo quer tirar a carteira de motorista) e tem a carteira, e não acha um emprego, ser taxista é uma boa opção.

Estratégias deletérias

O fato destes taxistas deterem o monopólio do transporte individual fez com que descambassem para uma forma "leve" de corrupção.

Você chama o Taxi por aplicativo de Taxi (não o Uber), e um Taxista é selecionado. No entanto, no meio do caminho ele vê um passageiro. Ele pára e pergunta para onde o passageiro vai. Se a corrida compensar, ele cancela a sua, te deixa na mão, e pega a outra. E eles mesmos dizem que na praça existem os honestos e desonestos. E por quê ? Porque não existe controle sobre os taxistas. Só agora, com muito custo, está se conseguindo colocar o controle biométrico para os motoristas.

O Troco

As transações entre Taxistas e passageiros são feitas em dinheiro. Ora, os caixas eletrônicos só estão fornecendo notas "grandes" (20 e 50). O passageiro sai de manhã com estas notas. Ao fim da corrida o Taxista, que já deveria ter o conhecimento do hábito dos passageiros lhe diz: "é minha primeira corrida, não tenho troco". E aí ? O passageiro faz o que ?

Se o Taxista se considera um profissional, que recebeu uma concessão municipal, ele deveria ter consciência e proatividade. Ele tem que sair pela manhã, para a sua primeira corrida, com troco. Mas o individualismo e o monopólio do transporte de passageiros já lhes subiu a cabeça a muito tempo.

Somente agora eles estão começando a se equipar com a máquina de cartão de crédito.

Profissão ?

Mas ter uma licença de Taxi é profissão. Uma vez tivemos oportunidade de conversar com um motorista de taxi que tinha uma visão esclarecida do assunto. Ele disse "motorista de taxi não é profissão". Perguntamos o porquê da afirmação, e ele explicou que "Taxi é uma ocupação para algum tempo, até que você arranje um emprego". É isto mesmo. Por ser extremamente desgastante, pois a pessoa trabalha exposta a um trânsito desumano, e a problemas de segurança (assaltos, brigas), ela deve ficar o mínimo de tempo possível nesta OCUPAÇÃO.

Os motoristas de Taxi tem que perceber que o Taxi deve ser OCUPAÇÃO e também reconhecer que tem que ser TEMPORÁRIA. Eles devem tentar fazer um curso, e nunca aposentar como Taxistas.

Aposentados

Existem motoristas que se aposentaram nesta Ocupação de Taxistas, ou em outras profissões, e vão dirigir um Taxi. A maior parte fica ainda pior no requisito Educação, andam muito devagar, e provocam discussões com os passageiros, pois já se consolidaram em uma postura muito sistemática, e não admitem opiniões quanto ao percurso, ficam dando recomendações de como bater a porta, não sujar o banco, e outras ignomínias.

O Uber

Então surge um serviço de transporte, regulado por aplicativo, com recibo, com punição para quem "pisar na bola", com carros limpos, motoristas educados, cobrança por cartão, com tudo registrado em banco de dados.

Vejam bem, após a corrida você recebe um email com o mapa de seu percurso, com estatísticas e com o valor da corrida. Você pode avaliar os motoristas.  Este é o mundo que os passageiros órfãos de um serviço anacrônico de taxi queriam. No caso do Taxi, o próximo passageiro que pega um motorista grosso não sabe disso, e sofre por uma avaliação que simplesmente não existe.

Se você fosse mal tratado em um Taxi, teria que anotar a placa, e ligar para a BHTrans para reclamar. Mas não havia provas. Com o Uber tudo fica registrado.

Brigas na Rua

Não é de se estranhar, pelo que foi exposto, levando-se em conta o temperamento dos Taxistas, o vandalismo que eles estão perpetrando nas nossas ruas, agredindo motoristas do Uber e depredando seus veículos. Eles são assim mesmo. Não querem perder o monopólio.

Conclusão

Qualquer serviço precisa de concorrência. O "Taxismo" precisa ser descaracterizado como profissão, e substituído totalmente pela modalidade trazida pelos aplicativos. Chega de grosseria, falta de educação, golpes dos Taxistas sobre os passageiros e desta atmosfera de impunidade em torno dos Taxis.

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