quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Rachaduras e risco de desabamento no bairro Buritis


Os anos 90 trouxeram uma metodologia imobiliária muito lucrativa. Construção em massa de edificações de proporções não muito pretensiosas, a título de moradia popular, com pagamento a perder de vista, ligado à renda do cidadão que queria a moradia própria, com financiamento facilitado pelo governo.

Financiamento facilitado pelo governo significa que sai dos impostos daquilo que pagamos com nossos salários e "pró-labores".

As construtoras, imbuídas do espírito de entrega ao prazo mais curto possível, e ao custo o mais baixo possível, se utilizaram dos blocos estruturais de pó de pedra e cimento, muito resistentes, e de fundações não muito elaboradas, já que optaram por praticar a altura máxima de 4 andares. Esta altura não demanda cálculos estruturais muito avançados, e os vãos foram congelados na média de 2,5 m de extensão, o que ajuda a não se precisar de esforço matemático dos calculistas.

Nos escritórios e firmas de engenharia, o mais importante passou, então, a ser prazo e custo, ambos curtos. Estas empresas passaram a se preocupar mais com softwares (programas de computador) de controle de projetos do que softwares de cálculo estrutural.

Em Belo Horizonte, o número de bons calculistas, que já dimensionaram estruturas robustas, se conta nos dedos. Existem outras categorias de técnicos que fazem o projeto, e vão aos engenheiros, para que estes assinem o projeto, prática um pouco perigosa.

Eu lembro dos meus tios fazendo os cálculos de engenharia nas antigas réguas de cálculo, e as edificações resultantes destes cálculos estão em pé até hoje, com mais de 3 andares e com vãos de mais de 5 metros. E na era da Informática, Notebook, Netbook, TV de LCD, Google Maps e iPhone, os prédios, mesmo baixos, estão caindo. Vergonha, incompetência e desonestidade. O CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) tem que frear este cenário de busca do lucro sem respeito a quem compra imóvel.

Agora somos obrigados a ver uma coisa desta acontecendo. Um prédio baixo, de desenho simples, a beira de um desabamento:


Observem as rachaduras e seus ângulos expressos nas linhas vermelhas. O início da rachadura é que evidencia seu ângulo. A rachadura considerada vertical (entre 70 e 90 graus) indica desnível de terreno. Quando as mesma são horizontais, não trazem perigo. É preciso ainda analisa a profundidade de cada uma. A superior, próxima da janela, revela afastamento visível da estrutura de tijolos. Geralmente as construções baratas, que usam o tijolo estrutural (aquele cinza com duas folgas grandes), levam o tijolo comum (vermelho) utilizado para fazer paredes, pois o último andar quase não precisa suportar peso de paredes, mas somente o peso do telhado.

O prédio foi construído pela Estrutura Engenharia, empresa oriunda de Bom Despacho.

Vejamos a rua:


O Corte na rua, entre o asfalto e a garagem, mostra a evidência do terreno cedido, mostrando a tendência do movimento de terra em direção do barranco atrás do prédio.

Geotecnia falha

Quando passamos por um lote que vai abrigar uma edificação, vemos os operários trabalhando em torno de um tripé para prospectar o solo, ou utilizando o "bate-estaca", para fazer os tubulões para as fundações.

Este trabalho é primordial, pois vai servir para os apoios da edificação. A rocha engana muito, tanto que existe o curso de Geologia e Geotecnia, para formar profissionais que saibam identificar com precisão o tipo de solo. No caso deste prédio, segundo uma geóloga entrevistada por uma rádio, a rocha predominante na região é o FILITO.

Esta rocha tem granulometria fina, quase equivalente aquela formada por sedimentação (arenosa). Neste caso, é preciso fazer um trabalho adicional, já que sendo metassedimentar ele apresenta uma porosidade importante para um país que possui um regime intenso de chuvas em determinada época do ano. Ele também é utilizado como agregado na indústria cerâmica.

Era preciso fazer um trabalho prévio de contenção da encosta do lado oposto à rua de entrada deste prédio. Mas o que manda é o baixo custo e o menor prazo.

1º de Novembro de 2011

A justiça ordena pagamento mensal de R$ 1500,00 a propósito de custos de moradia temporária para os moradores, na mesma região.

2 comentários:

  1. Esse prédio e mais 3 vizinhos foram construídos em cima de um talude(barranco) coisa que não pode,a não ser que haja antes todo um processo de contenção desse barranco com muros de arrimo e que as fundações do prédio estejam muito profundas a ponto de transmitirem o peso do prédio para o subsolo profundo e firme que esta abaixo do barranco.Se colocar o peso sobre o barranco desaba com as chuvas.Resumo:Não construir prédio na beira de barranco,mas se for inevitável,tente distancia-lo ao máximo da beirada do barranco,faça fundações profundas do prédio abaixo do nível do barranco e barranco arrimado.Fica muito caro.

    ResponderExcluir
  2. Esse prédio e mais 3 vizinhos foram construídos em cima de um talude(barranco) coisa que não pode,a não ser que haja antes todo um processo de contenção desse barranco com muros de arrimo e que as fundações do prédio estejam muito profundas a ponto de transmitirem o peso do prédio para o subsolo profundo e firme que esta abaixo do barranco.Se colocar o peso sobre o barranco desaba com as chuvas.Resumo:Não construir prédio na beira de barranco,mas se for inevitável,tente distancia-lo ao máximo da beirada do barranco,faça fundações profundas do prédio abaixo do nível do barranco e barranco arrimado.Fica muito caro.

    ResponderExcluir